Em todas as abordagens que já apresentei sobre programas de fidelidade, sempre ressaltei a importância do relacionamento e do bom atendimento ao cliente. Na verdade o bom atendimento, o relacionamento, estar alinhado às necessidades dos clientes e movimentar-se com agilidade no mercado são fatores praticamente indispensáveis ao sucesso de qualquer organização atualmente.
Um dos aspectos que eu não abordei apropriadamente ainda é o custo de toda esta estrutura e de todo este gerenciamento de informações, necessidades e segmentações.
E, destes todos, o maior custo é o que se origina da premiação distribuída. Pelo menos é assim que deve ser. Se você gerencia um programa de fidelidade e as despesas com administração, processamento, atendimento e outras atividades administrativas são maiores do que as despesas com premiação (e o seu programa já tem mais de 1 ano de vida!), então você deve fazer uma re-avaliação urgente das estratégias do seu programa, pois ele não está trazendo os resultados esperados.
E essa é a maior justificativa para que a premiação seja responsável pela maior fatia das despesas. Se o seu programa tem apelo para os seus clientes, se eles se sentem motivados a participar, então o seu volume de vendas aumentou, conseqüentemente mais pontos foram distribuídos e mais resgates são realizados.
Não é, afinal de contas, uma pergunta das mais difíceis, uma vez que basta verificar o total de pontos resgatados e multiplicar pelo valor médio de cada ponto!
Isso é verdade quando gerenciamos nosso programa de fidelidade nos eventos. Neste caso só nos preocupamos com o evento resgate e calculamos nossa despesa sobre ele. Mas devemos ter em mente que os pontos que estão sendo resgatados hoje foram gerados através de transações que aconteceram no passado. E não é justo, nem correto!, fazer com que as transações que estão acontecendo agora sejam responsáveis por pagar toda a conta do programa.
Desta forma, a estratégia adequada, do ponto de vista gerencial, é reservar uma parte da receita obtida com as transações realizadas (e que se converteram em pontos) para a despesa futura de premiação.
A esta reserva de receita com finalidade de compensar despesas futuras, chamamos de “provisionamento”.
Em outras palavras, um programa que tem um provisionamento gerencial correto sempre estará financeiramente saudável. Este modelo de provisionamento, que chamarei de “clássico” é amplamente utilizado em grandes empresas, gerencialmente e contabilmente. Há poucos anos, entretanto, surgiu uma nova recomendação para a contabilização dos programas de fidelidade que está passando a ser aceita globalmente. Também conhecida como IFRIC 13, tem recomendações específicas para programas de fidelidade.
Apesar de ter sido desenvolvida especificamente para esta finalidade, a metodologia do IFRIC 13 não favorece, na minha opinião, o controle gerencial do programa. Em termos de apresentação de resultados e metodologia contábil parece atender satisfatoriamente (apesar da dificuldade em realizar certas apurações). Mas com a finalidade de manter uma “conta poupança” onde sejam aplicados valores suficientes para pagar as despesas dos prêmios resgatados, eu ainda prefiro a metodologia clássica.
Na prática, para realizarmos um provisionamento no modelo clássico tudo o que precisamos saber é:
· Valor projetado do ponto resgatado
· Índice projetado de redemption
· Total de pontos distribuídos no período
Tome-se como exemplo os seguintes valores:
· Valor projetado do ponto resgatado = R$ 0,0285
· Índice projetado de redemption = 38%
· Total de pontos distribuídos no período = 5,45 milhões de pontos
O valor total a ser provisionado será:
(Total de Pontos Distribuídos) x (Índice Projetado de Redemption) x (Valor Projetado do Ponto)
5,45 milhões x 38% x R$ 0,0285 = R$ 59.023,50
Isso significa dizer que, somente 38% dos pontos distribuídos serão resgatados ao longo do tempo. Os outros 62% ou cancelarão, ou deixarão os pontos expirar, ou terão os pontos bloqueados e outros eventos que impeçam sua utilização. Sendo assim, ao distribuir mais de 5 milhões de pontos, espera-se uma despesa futura com premiação da ordem de 60 mil reais.
O conceito e a explicação fazem o provisionamento ser visto como algo extremamente complexo, quando, ao contrário, é algo muito simples, de cálculo fácil e rápido.
Ao considerar o redemption acumulado projetado, todos os efeitos de cancelamento, expiração e outros eventos de perda de pontos estão sendo considerados, o que facilita sobremaneira os cálculos, uma vez que não se faz necessária nenhuma abordagem estatística sobre a base de pontos expirados e/ou cancelados.
O provisionamento foi o primeiro entre alguns temas relacionados a despesas e receitas dos programas de fidelidade que abordarei. Acompanhe!
Abraços e boa semana.